terça-feira, 10 de junho de 2008

in "OS LAÇOS QUE NOS UNEM" - 3º Capítulo

..."O relógio, indiferente e pontual, não parou um único segundo apesar das suas vidas estarem prestes a ter um colapso que ia ganhando contornos de tragédia a cada minuto que passava. Deitados, sobre a areia que tantas vezes se colara aos seus corpos suados e por baixo do mesmo Sol que tantas horas os acolhera e mantivera quentes nas muitas maratonas de beijos passadas na água, mantiveram-se calados, sob o olhar terno dos amigos que não sabiam o que dizer, nem o que fazer. Uma tristeza profunda e avassaladora, esmagava também o coração de todos aqueles, que durante mais de uma semana, tinham tido a oportunidade de conhecer e ver aqueles dois, num constante corrupio, misto de fartura e calmia, que lhes tinha dado a eles próprios, voyeurs da maior experiência do Mundo, a esperança de que o Amor, afinal, existia mesmo. A Praia da Poça, estava prestes a eternizar-se nos seus dois corações partidos, como o único local onde tinham vivido incondicionalmente felizes, apesar de ser também ela, o palco rectangular do maior sufoco que estavam prestes a experimentar. Sobre aquela areia, estavam presentes as forças antagónicas e inconjugáveis, de um maligno oito acabado de nascer e de um oitenta capaz de arrebentar com a escala do bem. Incontornavelmente, todos, inclusive eles próprios, sabiam que o primeiro levaria a melhor e essa tomada de consciência pelos dois, fez com que uns minutos antes da hora certa da boleia e sem avisar o outro, começassem a chorar num abraço soluçante, expressando definitivamente o que lhes ia na alma sem vergonhas, nem falsos exageros. O facto de serem cúmplices e mesmo assim não terem a força suficiente, para juntos, conseguirem mudar a realidade, aumentava-lhes ainda mais a dor e esganava, de uma forma quase sangrenta, as suas gargantas inocentes e cansadas de soluçar. Repetiram o “eu amo-te” e o “te amo” mais vezes do que alguma vez puderam pensar em dizer durante uma vida inteira e no momento em que estavam abraçados até à alma, a traição aguardada consumou-se, num golpe quase fatal vindo da estrada, dado pela buzina dilacerante do mesmo automóvel preto, qual carro funerário, que os esventrou, esvaziou e estava prestes a separar para sempre."...

Sem comentários: